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JORNALISMO POLÍTICO: Desafios na área especializada em coberturas políticas

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As especificidades da profissão na percepção de Isabel Filgueiras, repórter do Núcleo de Conjuntura do jornal O Povo

A jornalista Isabel Filgueiras falou sobre a produção de jornalismo político local e nacional (Foto: Fco Fontenele)

A jornalista Isabel Filgueiras falou sobre a produção de jornalismo político local e nacional (Foto: Fco Fontenele)

O jornalismo político precisou de fôlego para acompanhar os acontecimentos que movimentaram este 2016. Impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT) e o consequente comando do país pelo presidente Michel Temer (PMDB), operação Lava Jato, aprovação de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que acirrou os ânimos dos brasileiros, entre outros fatos. O jornalista da área precisou se desdobrar neste ano atípico.

E, para falar sobre os desafios da profissão de uma forma mais abrangente, o Quinto Andar conversou com a jornalista Isabel Filgueiras. Formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e com passagem pela Melbourne University para estudos internacionais, ela atualmente é repórter do Núcleo de Conjuntura do jornal O Povo e colaboradora da Folha de São Paulo e do portal Eder Content.

Quinto Andar – Isabel, geralmente você fica responsável pelas coberturas do O POVO no que tange à política nacional e internacional. Em relação à cobertura local, que comparações podemos fazer quanto às apurações das matérias?

Isabel Filgueiras – Existe diferença. É sempre mais fácil se relacionar com fontes locais, construir laços e ter acesso aos fatos em primeira mão. Precisamos fazer sempre um esforço maior em relação a coberturas de longas-distâncias. Também é preciso checar melhor as fontes para saber se são confiáveis e correr contra o tempo para competir com quem está em campo. No caso de coberturas internacionais há, ainda, outros dois limitantes: língua/cultura e diferença de fuso horário, que pode ser crítico.

QA – Você é colaboradora da Folha de São Paulo aqui no estado. Como é ter de se desdobrar em dois veículos distintos?

IF – Houve momentos em que as pautas eram as mesmas, porque costumam ser assuntos que interessam aos dois veículos. O dia mais difícil foi cobrir protestos para os dois veículos. Um no meu celular, em tempo real, para o site, e outro com cobertura mais profunda, para o impresso. O POVO acaba sendo prioridade. O importante é se comunicar bem com os editores dos dois veículos. Nesse momento, tem que ter senso ético

QA – Em matéria publicada no Observatório da Imprensa, no início deste ano, o jornalista Ricardo José Torres afirmou que o jornalismo político está matando a política. A afirmação foi feita em “tempos de corrupção”, quando jornalistas estavam mais intensos na “obsessão” por informações da Lava a Jato. Como você analisa a cobertura local em relação a fatos de âmbito nacional?

IF – Tudo depende de uma série de fatores, como o meio onde se trabalha, sua orientação de pauta, liberdade de abordagem, tempo de apuração e capacidade de encontrar equilíbrio. Sempre vamos errar, talvez mais que acertar, no jornalismo. O importante, a meu ver, é tentar se manter com a cabeça no lugar e se prender mais a fatos que especulações. Nacionalmente houve erros, que se repetiram localmente pelas agências. Mas, sempre que podemos, tentamos fazer a diferença, buscando um material mais claro e justo com todos, principalmente com o leitor.

QA – Você teve a oportunidade de trabalhar no Estadão, outro jornal de grande renome no País. O que você extraiu da experiência?

IF – Ver o ritmo de uma redação nacional é sempre interessante. Estive lá bem na época das eleições para presidente entre Dilma e Aécio. Ali, me descobri como repórter de política, porque acabou sendo a editoria em que mais consegui produzir. Ter acesso às fontes e perceber como o tratamento delas varia de acordo com seu veículo também foi uma experiência. A passagem ali me ajudou em muitas coisas, eu me conheci bem melhor como profissional depois disso. No mais, os problemas costumam ser os mesmos, nunca temos tempo ou recursos suficientes para fazer o jornalismo da forma que queremos.

QA – Jornalismo político tem muito de bastidores. E, provavelmente, muitos políticos a procuram para “vender uma pauta”. Como se dá esse filtro, do que deve ser apurado e publicado?

IF – Claro que é preciso estar atento. Sempre vai haver interesse por trás dessas atitudes. Temos que analisar, apurar e abordar de forma justa. Ouvir o outro lado é essencial. Não é porque o político tem interesse em algo, que isso vai deixar de ser pauta ou você vai se recusar a publicar. Notícia é notícia.

QA – Enquanto jornalista de política, no que se diferencia seu relacionamento com as fontes?

IF – Não vejo muita diferença em comparação a outras editorias. Surgem quando têm interesse, somem quando dá problema. Relação com fonte é sempre algo que envolve confiança e desconfiança, esperteza e cordialidade. Talvez, a vantagem seja que os políticos precisam falar conosco, então, às vezes, têm que engolir coisas que escrevemos e eles não gostam.

QA – Se percebermos como as editorias daqui são construídas, nota-se que muitos jornalistas políticos são homens. Pouco a pouco, entretanto, vemos que as mulheres estão se inserindo neste mercado…

IF – Não diria que dá um novo olhar, porque estamos nisso há muito tempo. Mas, certamente, temos uma participação importante e que não pode mais faltar. Mônica Bergamo, por exemplo, é um dos nomes de muito respeito e prestígio, atualmente. Cresceu nossa participação, portanto é natural que cresça também nossa voz em reportá-la. Mas, infelizmente, está muito longe da participação se equilibrar entre gêneros.

QA – Quais comparações podem ser feitas entre o jornalismo no Ceará e o realizado no eixo Rio-São Paulo?

IF – Senti uma tremenda falta de espaço em São Paulo para publicar matérias e levar novas ideias. Colegas que ficaram lá reclamam disso também, os próprios jornalistas paulistas. Também senti um nível de competitividade que nunca tinha visto nas duas redações que trabalhei no Ceará. Existe mais camaradagem por aqui, as pessoas compartilham e se ajudam mais. Apesar de encontrarmos erros nos jornais de lá, eles são bem rigorosos com texto e fatos também. Tive lições importantes de jornalismo no meu pouco tempo em São Paulo, sobretudo sobre política. Também acho que somos mais permissivos no jornal O POVO. Nas grandes redações, ter nome importa, mas nem todo mundo em São Paulo trabalha assim.

QA – Existe uma análise sua das pautas locais que têm chances de serem veiculadas na Folha de São Paulo?

IF – Recentemente, a Folha deu uma espécie de treinamento virtual para nós, colaboradores e correspondentes. Eles explicam que tipo de pauta interessa e em que formato enviar essas sugestões. Cabe a nós fazer uma análise do que seria interessante para eles e ficar atento para saber se teremos tempo de apurar direitinho, antes de enviar. De antemão, posso dizer que eles gostam de coisas bem inusitadas, que podem gerar curiosidade no leitor nacional.

Caio Faheina
8º semestre

Lara Veras
7º semestre

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