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CONGRESSO II: Lideranças discutem o futuro do jornalismo brasileiro

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Discursos políticos e elaboração de novo plano de lutas reafirmaram a emergência de espaços de diálogo sobre a profissão

Primeiro painel contou com a presença de jornalistas experientes e questionou o homogeneização da mídia (Foto: Léo Costa)

“Não podemos mais aceitar passivamente a precarização que vem acontecendo nas últimas décadas”. A afirmação da presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, condensa bem o clima que norteou as conversas no segundo dia do I Congresso Estadual Extraordinário dos Jornalistas do Ceará e III Encontro Estadual de Jornalistas em Assessoria de Imprensa (Enjai). Com a presença de lideranças como a deputada federal Luizianne Lins (PT) e o também deputado federal Jean Wyllys (PSOL), as nuances do jornalismo no Brasil no contexto político atual foram analisadas detalhadamente em painéis que discutiram a mídia livre, a não-homogeneização da imprensa e a pauperização da profissão em tempos de Reforma Trabalhista.

Se no dia anterior as formalidades iniciais amenizaram o caráter extraordinário do Congresso, a manhã do sábado, 12, deixou claro o momento delicado o qual a classe de jornalistas e a classe trabalhadora em geral enfrenta. Com atraso, as atividades foram iniciadas com a leitura e aprovação do regimento interno do Congresso e do Encontro pelos profissionais presentes.

Logo após a aprovação, a mesa contou com as jornalistas Sylvia Moretzsohn e Laura Capriglione para discussão que indagava: “Jornalismo em crise ou a crise do modelo de negócios do jornalismo?”. Ex-professora de jornalismo no Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sylvia iniciou citando o filósofo alemão Karl Marx e a práxis, conceito socrático que defende a atividade prática em oposição à teoria.

Maria José Braga demonstra preocupação ao repassar dados que mostram que apenas 25% da classe no país é sindicalizada (Foto: Leo Costa)

Com o subtema “A ética e a transformações e dilemas do jornalismo no contexto inaugurado pela internet”, a também doutora em Serviço Social enfatizou a obrigação de um jornalismo ético. Discursou sobre a dificuldade de tal tarefa visto que as grandes corporações de comunicação muitas vezes privam o profissional de liberdade de opinião dentro e fora do ambiente de trabalho. E, por último, deu exemplos pessoais ocorridos durante sua carreira.

Sylvia encerrou seu momento, renovando a importância do movimento sindical para conquistas dos trabalhadores. E criticou os conflitos internos da classe que, em vários momentos, impediram ou atrasaram vitórias.

Com o subtema “Jornalismo independente e fora das grandes mídias é possível?”, a integrante do coletivo Jornalistas Livres, Laura Capriglione, imergiu os participantes em um verdadeiro túnel do tempo da história do jornalismo no Brasil. Usando sua carreira em lugares como a Folha de São Paulo e revista Veja, a jornalista relembrou com nostalgia os tempos em que o jornalismo era o sonho de muitos.

Lamentou a realidade atual em que os grandes grupos de comunicação optaram pelo partidarismo, se desvencilhando assim de qualquer serviço social comunicativo que deveria servir como bússola para a profissão. Laura relembrou o caso Amarildo, um ajudante de pedreiro que desapareceu em 2014, após ter sido detido por policiais militares. Ela frisou que Amarildo não passaria de uma nota de rodapé na mídia tradicional, mas que as redes sociais transformaram isso e questionaram para os quatro cantos: “Onde está Amarildo?”.

Ao explicar o funcionamento, a dimensão e a extrema importância da mídia livre no Brasil, como alternativa às grandes corporações tradicionais, a jornalista encerrou o primeiro painel da manhã.

Projeto de lei proposto por Luizianne Lins procura regulamentar normas para o exercício do estágio (Foto: Léo Costa)

O segundo painel teve como tema central “Trabalho decente para os jornalistas no contexto das contrarreformas”. A primeira fala foi feita pelo assessor jurídico do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), Carlos Chagas, com o subtema “Implicações legais da flexibilização no mundo do trabalho de jornalistas: terceirização, reforma trabalhista e da Previdência”. Apresentando informações técnicas, o advogado traçou um histórico da Reforma Trabalhista e demonstrou, por meio de dados, como a reforma irá transformar completamente a realidade do trabalhador brasileiro.

A presidenta Maria José, da Fenaj, iniciou seu momento comunicando que havia optado por fazer um discurso político ao invés de uma explanação. Disse ainda que pretendia causar espanto nos participantes para demonstrar quão era séria a situação que os levou ao Congresso. Lembrou que a precarização da classe jornalística não será iniciada com a Reforma Trabalhista porque ela vem ocorrendo há décadas.

A exploração de mão de obra estagiária e as manobras de empregadores para burlar as leis trabalhistas foram outros exemplos citados. E provocou risos quando foi citada a atividde de “free lancer fixo”, definido pela presidente como um dos absurdos que o jornalismo tem enfrentado há muitos anos.

Temerosa em relação ao futuro, Maria José Braga contou que no próximo ano a possibilidade da Fenaj fechar as portas é real já que com as mudanças, o imposto sindical deixará de ser obrigatório. Reforçando novamente a importância da união da classe de jornalistas e trabalhadora, ela encerrou sua fala anunciando que a Federação irá seguir os passos do Sindicato ao convocar um encontro extraordinário.

Aguardada por muitos, a deputada federal Luizianne Lins (PT) deveria falar sobre “Estágio ou precarização? A utilização da mão de obra estudantil”, mas acabou repetindo os interesses anteriores sobre o processo midiático que culminou no impeachment de Dilma Roussef. A discussão sobre as atuais condições dos estagiários de comunicação teve espaço mínimo ao final da fala da deputada. Tendo como base o projeto de lei proposto por ela, que procura regulamentar o trabalho dos estagiários, a apresentação fomentou o debate sobre a precariedade enfrentada pela classe a qual Luizianne também pertence.

O terceiro painel teve como tema o “Jornalismo como pilar da Democracia”. Vencedor de dois prêmios Vladimir Herzog e criador do site Viomundo, Luiz Carlos Azenha deu continuidade ao tema de modelos alternativos à grande mídia, ao falar sobre sua experiência própria na blogosfera. Ao relembrar o episódio em que cobriu a queda do Muro de Berlin, o jornalista comparou a velocidade de troca de informações na época e agora. Por fim, celebrou a iniciativa de coletivos como o Jornalistas Livres, que driblam o monopólio da informação.

O jornalismo como pilar da democracia foi o tema de encerramento das mesas do Congresso (Foto: Léo Costa)

Depois foi a vez da fundadora do blog Socialista Morena, Cynara Menezes. Usou também de sua trajetória pessoal para mostrar que a imprensa na internet é o caminho para aqueles que procuram fugir do tradicional. Cynara defendeu que o jornalismo, livre de posicionamento não existe e que se orgulha em dizer que seu antigo blog, agora site, tem ideologia socialista e comunista desde o princípio.

No encerramento das mesas do dia, o jornalista, professor e deputado federal Jean Wyllys (PSOL), citou o pesquisador em comunicação Pierre Lévy para reafirmar a importância do jornalismo de qualidade na manutenção da democracia no país. Em um momento de fake news, pós-verdade e erupções sociais, Jean afirmou que os jornalistas são como “arcas” que irão mostrar o caminho a ser seguido em um dilúvio cada vez maior de informações nebulosas.

Após os painéis, foram divididos grupos para discussão do novo plano de lutas dos jornalistas cearenses para ser lido e aprovado no domingo, 12, no encerramento do Congresso.

 

Texto e fotos: Léo Costa (Jornalismo – 4º semestre)

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