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2 DE ABRIL: DIA MUNDIAL DA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO

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A data é sinônimo de acolhida para a população autista e leva a uma reflexão sobre o processo de inclusão social

O Dia Mundial do Autismo é celebrado em 2 de abril. A data foi criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e comemorada pela primeira vez em 2008. A celebração é importante para garantir visibilidade aos portadores do transtorno. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), órgão regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que uma em cada 160 crianças no mundo sejam portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, a OPAS afirma que esse número atinge uma em cada 59 crianças.
A Associação de Psiquiatria Americana (APA) afirma que o TEA é identificado através da observação comportamental a partir do primeiro ano de vida, entretanto, um diagnóstico mais confiável pode ser feito por especialistas em crianças com pelo menos 18 meses de vida.
Mayra Gaiato, psicóloga e neurocientista brasileira, afirma em seu guia para autismo “ S.O.S Autismo: Guia Completo para o Transtorno do Espectro
Autista”, que os sinais de alerta para o autismo são muitos e podem ser vistos em idades diferentes. De acordo com o guia, nos primeiros 12 meses de vida, a falta de contato visual pode ser um alerta. Outros pontos observados são as ausências da comunicação verbal e do contato visual, a partir dos 3 e 4 anos respectivamente. A autora mantém o maior canal do Youtube no Brasil sobre pesquisa científica em autismo e intervenção precoce.

Mayra Gaiato, psicóloga, neurocientista e Youtuber pela causa autista

O diagnóstico na primeira infância possibilita à pessoa autista o acesso a um acompanhamento que lhe trará melhor qualidade de vida. Daniela Botelho, presidente da Associação Fortaleza Azul (FAZ), instituição que desenvolve trabalhos com pessoas autistas na cidade de Fortaleza, defende uma intervenção precoce nos atendimentos a essas crianças. “Alguns recém
nascidos já mostram os primeiros sinais , porém os pais e pediatras tendem a postergar a investigação”.

O TEA afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, e Daniela afirma existirem alternativas para a pessoa autista se comunicar : “O autista não verbal pode se comunicar por PECs (gravuras) ou pela escrita”. Ela também aponta a importância da busca por informação sobre o TEA : “ Buscar informação e apoio é essencial. O autismo não é o fim do mundo. É um recomeço de uma história que a família não esperava”.

Fortaleza Azul (FAZ). A associação atua no município de Fortaleza e surgiu em 2015 da necessidade de
uma rede de suporte para famílias que buscam apoio e acolhimento. Contato:(85)98186-4552/ e-mail:
[email protected]

A FAZ é a instituição responsável pelo atendimento à família de Juliana
Ribeiro, estudante de medicina, que notou a rotina de sua família mudar para se adaptar à realidade de seus irmãos autistas: “ Meus irmãos obrigaram nossa família a estabelecer uma rotina mais rígida e eficiente em casa. Ao mesmo tempo, nos vimos diante de uma obrigação moral de entrarmos em uma militância pelo direito das pessoas com deficiência. Por empatia para além dos nossos”.

Juliana reitera a importância da participação familiar para o bem estar do
autista: “ Uma família consciente do que é o autismo, e que está empoderada de informações e estratégias de como ter uma convivência tranquila com o autista, com certeza ajuda”. A estudante também comenta sobre erros comuns em relação ao TEA : ”Primeiramente, é errado dizer que os autistas vivem no próprio mundo. Eles estão conosco, apenas se manifestam de outra forma. E não se usa mais o termo grau para classificar autismo, e sim, espectro”.

Família de Juliaa :Sandra Ribeiro,de azul(mãe),
Juliana, Vanilson Ribeiro(pai), Carolina, de roxo (irmã) e Marcelo, de vermelho (irmão)

CLASSIFICAÇÃO: DSM e CID
O Transtorno do Espectro Autista assim é denominado pelo Manual de
Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM), livro referência que
define como deve ser feito o diagnóstico de tais transtornos. É usado como guia por profissionais de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e medicina.
O autismo também consta na Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). A CID é divulgada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e fornece códigos para cada
grupo de doenças. O DSM está em sua quinta edição publicada e o TEA é identificado através do código 299.0.

ESPECTRO AUTISTA Uma dúvida comum quanto aos espectros do TEA diz respeito a sua manifestação. A Dra. Denise Evangelista, psiquiatra residente em Fortaleza, afirma que o espectro apresentado pelo autista pode mudar :”O autismo não está estático na nossa vida, pois nada está.” A médica salienta que o autista passa por todas as fases da vida como toda pessoa neurotípica. E assim, está suscetível às mudanças que ela acarreta: “Isso ( as mudanças) não deixam de acontecer porque a “cegonha” trouxe um cérebro com autismo.” ,explica a psiquiatra. Denise também alerta para os estereótipos que existem em relação aos
portadores do autismo: “Ouvimos muitos mitos em relação ao autismo. É dito que eles não gostam de carinho, que não possuem empatia. E não é verdade. A médica fala ainda, sobre a falta de dados sobre autismo no Brasil : “ Não possuímos um número certo de autistas no Brasil porque ainda não existe um censo brasileiro para autismo. A vitória que conseguimos até agora foi implantar no IBGE uma pergunta que questiona se existem autistas na família”. Apesar da conquista, o impacto da pandemia impossibilitou a realização do censo.

Dra.Denise Evangelista, psiquiatra pelo Hospital de Saúde Mental
Prof. Frota Pinto e Psiquiatra da Infância e Adolescência pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Usp

AUTISMO E COVID-19 A pandemia alterou a rotina de toda a sociedade. Escolas fechadas e isolamento social são fatores que pesam na rotina do autista. Essa quebra de rotina ocasionada pela Covid-19 pode ser difícil para pessoas com o espectro do TEA. Para enfrentar essa nova realidade, a organização não-
governamental Autismo e Realidade, com sede em São Paulo, recomenda
que pais e mães de autistas procurem criar uma rotina escolar em casa,
seguindo a mesma ordem de atividades feitas na escola. A entidade também recomenda a criação de momentos de autocuidado, como meditação e leitura para aliviar o estresse. Em Fortaleza, O Grupo de Estudos em Neuroinflamação e Neurotoxicologia (GENIT) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) publicou o trabalho intitulado “Os distúrbios do espectro do autismo podem ser um fator de risco para o Covid-19?”. A conclusão do estudo mostra que há várias características do TEA que colaboram para o agravamento da Covid-19, como a neuroinflamação e o sistema de imunidade vulnerável.

DIAGNÓSTICO E PREVALÊNCIA
De acordo com o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC),
aproximadamente uma em cada 54 crianças foi diagnosticada com espectro
autista nos Estados Unidos em 2020. Quanto à presença do autismo por
gênero,a Associação de Psiquiatria Americana ,relata que meninos são quatro vezes mais afetados pelo autismo que meninas. A boa notícia é que o número de avaliações precoces aumentou anualmente. Em 2016, de acordo com a APA, houve um aumento de 84% no número de avaliações precoces do espectro autista. No Brasil, o único estudo brasileiro feito nesse sentido foi um estudo- piloto realizado em 2011 no município paulista de Atibaia,onde foi identificada a prevalência de uma criança autista para cada 367 crianças.O estudo foi realizado pela psicóloga Sabrina Bandini Ribeiro. O que é prevalência? No caso do TEA, é o número total ou proporção de casos existentes de pessoas com algum espectro autista em uma população.

LEIS E DIREITOS
No Brasil, a população autista goza dos mesmos direitos assegurados a todos os cidadãos por meio da Constituição Federal de 1988. Todas as crianças autistas brasileiras estão protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adoslescente (Lei 8.069/90) e os idosos pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei Benenice Piana ( Lei 12.746/2012), que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
A Lei Berenice Piana determina o direito dos autistas a um diagnóstico precoce, com tratamento, terapias e medicamentos pelo Sistema Único de Saúde ( SUS). Também garante o acesso à educação e à proteção social; ao trabalho e a serviços que propiciem a igualdade de oportunidades. A lei determina que a pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais. Isso é importante porque viabilizou a inserção da população autista no Estatuto da Pessoa com Deficiência ( Lei 13.146/15) e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (6.949/2000).

REVISTA AUTISMO
A publicação surgiu em 23 de abril de 2010, por ideia de dois pais de Portadores do Espectro Autista, o jornalista Francisco Paiva Junior e o publicitário Martim Fanucchi. A Revista Autismo é gratuita, impressa e digital, e se constitiu como a primeira revista periódica a respeito de autismo da América Latina, além de ser a primeira do mundo sobre o tema, em língua portuguesa.

Primeira versão da logomarca da revista e as capas dos primeiros 4 números publicados

HISTÓRICO DO TEA
ANOS 40
O psiquiatra Leo Kanner publica a obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” ; Hans Asperger escreve o artigo “A psicopatia autista na infância”, destacando a ocorrência preferencial em meninos, que apresentam falta de empatia, baixa capacidade de fazer amizades, conversação unilateral, foco intenso e movimentos descoordenados. ANOS 50 E 60
A Associação Americana de Psiquiatria publica a primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais DSM-1. Nos anos 50 era comum achar que o distúrbio seria causado por pais emocionalmente distantes (hipótese da “mãe geladeira”, criada por Leo Kanner). Nos anos 60, crescem as evidências sugerindo que o autismo era um transtorno cerebral presente desde a infância é encontrado em todos os países e grupos socioeconômicos e étnico-raciais; Temple
HYPERLINK “https://autismoerealidade.org.br/2019/07/12/temple-grandin-
especialista-em-manejo-de-gado-com-fama-internacional/”
Grandin, diagnosticada com Síndrome de Asperger, cria a “Máquina do Abraço”, aparelho que simulava um abraço e acalmava pessoas com autismo.
Anos 70 E 80
O psiquiatra Michael Rutter classifica o autismo como um distúrbio do desenvolvimento cognitivo, criando um marco na compreensão do transtorno. A definição inovadora de Michael Rutter e a crescente produção de pesquisas científicas sobre o autismo influenciam a elaboração do DSM-3. Em 1983, a psiquiatra Lorna Wing desenvolve o conceito de autismo como um espectro e cunha o termo Síndrome de Asperger, em referência à Hans Asperger. Em 1988, o psicólogo Ivar Lovaas publica um estudo sobre a análise do comportamento, demonstrando os benefícios da terapia comportamental intensiva. A terapia comportamental e os ambientes de aprendizagem altamente controlados emergem como os principais tratamentos para o autismo.
Anos 90
Novos critérios para o autismo foram avaliados em um estudo internacional multicêntrico, com mais de mil casos analisados por mais de 100 avaliadores clínicos. Os sistemas do DSM-4 e da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças) tornaram-se equivalentes para evitar confusão entre pesquisadores e clínicos. A Síndrome de Asperger é adicionada ao DSM, ampliando o espectro do autismo, que passa a incluir casos mais leves, em que os indivíduos tendem a ser mais funcionais.
ANOS 2000
Em 2007, a ONU instituiu o dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Em 2012 ,é sancionada no Brasil, a Lei Berenice Piana (12.764/12). Em 2013, o DSM-5 passou a abrigar todas as subcategorias do autismo em um único diagnóstico: Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em 2014, o maior estudo já realizado sobre as causas do autismo revelou que os fatores ambientais são tão importantes quanto a genética para o desenvolvimento do transtorno.Em 2015, A
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.145/15) cria o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que aumenta a proteção aos portadores de TEA . Em 2018, o 2 de abril passa a fazer parte do calendário brasileiro oficial como Dia Nacional de Conscientização sobre o Autismo.

INSTITUIÇÕES EM FORTALEZA
FAZ- Associação Fortaleza Azul
Contato: (85)98186-4552
E-mail: [email protected] Endereço: AV Ministro José Américo 271 sala21 Cambeba
Neuropsicocentro Clínica Especialiada em Tratamento de Autismo
Contato: (85) 3261-4732
Endereço: Rua Desembargador Leite Albuquerque, 1320 – Aldeota, Fortaleza- CE, 60150-150
Fundação Casa Esperança
Contato: (85) 3273.6961
Endereço: Rua Francílio Dourado- no. 11. Bairro Água Fria, 60813-660.

Texto: Cesar Rodrigues  (3° semestre -Jornalismo/UNI7) 

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