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PASSA PALAVRA: O legado de Alberto Dines na memória de jornalistas cearenses

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Morte do fundador do Observatório da Imprensa repercutiu entre profissionais do jornalismo local

O jornalista e fundador do Observatório da Imprensa, Alberto Dines, faleceu às 07:15 da manhã desta terça-feira, 22, aos 86 anos, vítima de problemas respiratórios. Dines estava internado no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, onde estava em tratamento contra uma pneumonia. A morte do profissional foi confirmada por sua esposa, a também jornalista Norma Couri.

A equipe do Observatório divulgou uma nota de pesar em seu site. Fundado em abril de 1996 e concebido como um fórum de análise das práticas jornalísticas, o Observatório da Imprensa surgiu como uma iniciativa do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (também idealizado por Alberto Dines) e como projeto original do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A partir de 1998, a iniciativa migra para a internet e TV.

Nascido em 1932, Alberto Dines começou sua carreira sendo crítico de outro tipo de conteúdo: o cinema, pela revista Cena Muda em 1952. Posteriormente trabalhou como editor no Jornal do Brasil de 1962 a 1973, sendo responsável por reformulações “profundas e históricas”, como admite o jornal. Nessa época ficou famoso pela matéria de capa sobre a morte de Salvador Alende, político marxista chileno e persona non grata da ditadura militar brasileira.

Conhecido pelo pensamento rigoroso e consciente que tinha sobre o modo de fazer jornalismo no Brasil, a perda de Alberto Dines repercutiu não só entre jornalistas mas também entre políticos do país. No Ceará, profissionais da imprensa manifestaram suas condolências ao jornalista, escritor, ombudsman, professor e responsável pela nova forma de se ler jornais.

Arlen Medina Neri (Foto: Divulgação)

“Ele [Alberto Dines] deixa o legado do compromisso com a informação. Notícia precisa, sem meios termos. Conheci o Dines numa visita dele ao O POVO. Foi um jornalista que contribuiu muito para a qualificação do meio, seja nas redações por onde trabalhou, seja nas salas de aula”.

Arlen Medina Neri, diretor-geral de jornalismo do O Povo.

Ildefonso Rodrigues (Foto: Divulgação)

“Inovador na escrita jornalística. Crítico perspicaz da Imprensa, Alberto Dines mostrou uma nova vertente do jornalismo. Ensinou que os textos vão além das ideias, passam por uma boa apresentação, o que chamamos hoje de design. Com esse pensamento, ele hierarquizou a notícia, dando a devida importância e espaço nas páginas. Dines valorizou o jornalismo contador de boas histórias. Com Dines ganhamos um novo olhar para o jornalismo brasileiro, mas hoje perdemos o senhor da notícia”.

Ildefonso Rodrigues, diretor editor do Diário do Nordeste.

Samira Castro (Foto: Divulgação)

“Impossível falar de crítica de mídia no país sem citar Alberto Dines. Acho que o maior legado é exatamente esse: ensinar aos jornalistas, por meio de sua atuação prática, que a mídia também é passível de ser criticada. Além disso, como ombudsman, sempre defendeu que o leitor não é consumidor, e sim cidadão. Destaco, ainda, que Dines defendeu o Jornalismo como forma de conhecimento e, portanto, corroborava com a necessária formação superior específica para o exercício profissional”.

Samira de Castro, presidente do Sindicato Profissional dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce).

Ronaldo Salgado (Foto: Via YouTube)

“Um jornalista indispensável à cultura jornalística brasileira e mundial. Ele sempre esteve à frente do tempo, desde quando comandou a reforma do Jornal do Brasil. É dono da precisão e da concisão jornalísticas e do viés mais crítico do exercício da reportagem. Pioneiro em media criticism no Brasil. Um líder nato de gerações de jornalistas! ”.

Ronaldo Salgado, jornalista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Erilene Firmino (Foto: Acervo Pessoal)

“Uma perda irreparável para o jornalismo e para a sociedade. O Dines, além da grandeza de seu trabalho como jornalista, forjou a auto avaliação da mídia. Nós, jornalistas, pelo processo de nosso trabalho, às vezes, caímos na armadilha de nos sentirmos os donos da verdade. O Dines atuava como uma lanterna nos encaminhando para a autocrítica: assumir nossos erros, tentar avançar nos acertos. E, neste sentido, beneficiava a sociedade, pois uma imprensa de qualidade auxilia o viver bem social”.

Erilene Firmino, jornalista do Diário do Nordeste.

Imsar Capistrano (Foto: Acervo Pessoal)

“Seu legado sempre nos será inspirador. Ele sem sombras de dúvidas trouxe uma contribuição significativa ao campo jornalístico brasileiro, principalmente, na crítica à mídia, especificamente, às produções jornalísticas. Seu papel como ombudsman transcendeu o pioneirismo na Folha de São Paulo. Ao lançar o Observatório da Imprensa em 1996, Dines colaborou para compreendermos que nossa relação com os meios de comunicação é muito mais do que receptores passivos. Fazemos leituras que, não só divergem e questionam os textos jornalísticos, mas acima de tudo ressignificam e redesenham os sentidos destas mensagens. Ademais, Dines sempre prezou por acolher a divergência de ideias e opiniões, nos ensinando a promover relações de respeito e de convívio democrático”.

Ismar Capistrano, professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Marlyana Lima (Foto: Acervo Pessoal)

“A sociedade é maior do que o mercado. O leitor não é consumidor, mas cidadão. Jornalismo é serviço público, não espetáculo’. Essa é apenas uma entre inúmeras citações de Alberto Dines que marcaram gerações. Mais do que grandes textos, esse mestre brasileiro nos deixou um legado de ideias e ideais, embasados pela vivência cotidiana da apuração e construção de notícias. Suas análises contundentes, precisas e muitas vezes incômoda nos alertava que o papel do jornalista exige, acima de tudo, compromisso com as pessoas, com a sociedade e com a vida”.

Marlyana Lima, editora do Caderno de Turismo, do Diário do Nordeste e da revista Gente.

Moacir Maia (Foto: Edson Junior Pio/Assembleia Legislativa do Ceará)

“A presença de Alberto Dines na cena nacional do jornalismo tem uma referência de significativa importância porque ele conseguiu introduzir, de forma sistêmica e continuada, a análise e a criticidade ao exercício profissional do jornalista em nosso País. Sua militância criou, notadamente a partir do Observatório de Imprensa, uma matriz de reflexão crítica que é essencial para nossa postura e atuação como algo inerente a quem tem a missão de defesa intransigente dos interesses da sociedade”.

Moacir Maia, Coordenador de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

TEXTO: Jonathan Silva (5º semestre – Jornalismo/UNI7)

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