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COMÉRCIO REGIONAL: Feira de Pequenos Negócios impulsiona empreendedorismo em Fortaleza

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Nos últimos três anos, mais de 1400 artesãos empreendedores incrementam a renda no fim do mês com a comercialização de diversos produtos em mais de 20 locais públicos espalhados pela Capital

O que antes funcionava como uma renda extra no fim do mês, hoje, para a artesã Daisy Barbosa, 29, a venda de bijuterias, biscuits e laços decorados já é considerada um ganho fixo. “Como emprego está muito difícil, aqui a maioria das mulheres obtém quase a renda fixa da casa, não é só mais uma renda extra, é a renda fixa mesmo. Então, muitas pessoas são totalmente dependentes desse projeto. Sou uma dessas pessoas, minha renda é exclusiva deste trabalho. É daqui que tiro tudo para meu sustento”, constata.

Há cerca um ano, Daisy Barbosa vende bijuterias, biscuits e laços decorados (Foto: Iury Medeiros)

Há cerca de um ano, Daisy é uma dos 1450 artesãos cadastrados no projeto Feira de Pequenos Negócios de Fortaleza. Criado pelo decreto 13272/2013, o programa oferece orientação a pequenos empreendedores de Fortaleza na gestão de negócios, permitindo o crescimento profissional e melhoria na renda.

“Como emprego está difícil, aqui a maioria das mulheres obtém quase a renda fixa da casa” Daisy Barbosa, 29

Essa iniciativa é promovida pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE). Realizada desde 2014, já cadastrou artesãos em 1143 feiras da Capital. “Atualmente, a Feira de Pequenos Negócios acontece em mais de 20 locais espalhados pela Cidade. Já atingiu um faturamento de cerca de R$ 3,6 milhões para os pequenos produtores locais. Faz parte de um programa de empreendedorismo sustentável no tocante às feiras. Ocorre em todos os terminais, nas Regionais, no Vapt Vupt da Messejana e do Antônio Bezerra”, explica Valter Gomes, coordenador de empreendedorismo e sustentabilidade de negócios da SDE.

Maria Moura, 41, é uma das artesãs mais antigas do projeto. Desde 2014, roda os terminais de ônibus, oferecendo aos transeuntes suas imagens sacras e pinturas rústicas. Ela conta que sentiu um pouco de preconceito quando lhe foi feita a proposta de trabalhar nos terminais. “Confesso que, em princípio, quando fui me inscrever, terminal era pra mim, tipo uma repulsa (‘Terminal?!’. Vou vender no terminal de ônibus?!’. Tinha um certo medo, mas vi que é totalmente diferente do que pensava. É um público como a gente. Aqui, pensava que era uma feira particular, não sabia que era da Prefeitura. Então, fui até a SDE me inscrever para a feira da Praça Murilo Borges. Na inscrição, a moça perguntou se tinha interesse de vir para os terminais e, mesmo com um certo preconceito, aceitei e até hoje nunca quis mais a feira da Murilo Borges. Prefiro os terminais e não quero sair mais daqui. Hoje, sou conhecida como a menina das imagens. Tem gente que me procura e pergunta: ‘Cadê a menina das imagens?’. Então, quem conhece meu trabalho já sabe que em algum terminal eu vou estar”.

Maria Moura é uma das artesãs mais antigas do projeto, que iniciou em 2014 (Foto: Iury Medeiros)

Nos locais de venda, são comercializados peças decorativa em cerâmica, madeira, biscuit, trabalhos com retalhos, bordados, artigos com material reciclado, dentre outros. O programa também oferece um espaço fixo na Aldeota, chamado de Casa do Artesanato, onde é possível encontrar uma mostra dos produtos comercializados. O lugar, situado na Avenida Santos Dumont, 2500 Lj. 17, tem se tornado uma vitrine para os pequenos empreendedores.

“A Prefeitura é mantenedora do Espaço, lá os produtos ficam expostos, são vendidos e depois todo o dinheiro arrecadado é repassado para os artesãos”, esclarece Valter. A artesã Monalisa Secundino é uma das beneficiadas que vende terrários, mini jardins, no local fixo e comemora a existência da loja: “Como moro distante e a maioria dos meus clientes está na Aldeota, o Espaço do Artesanato ajudou muito na divulgação do meu trabalho. Muitos clientes passaram a procurar mais meu trabalho e consegui muitas encomendas”.

A feira já atingiu um faturamento de cerca de R$ 3,6 milhões aos artesãos (Foto: Iury Medeiros)

A fim de proporcionar oportunidades iguais para todos os envolvidos, a Feira de Pequenos Negócios é um projeto rotativo. Os artesãos não ficam sempre nos mesmos pontos de venda. Aos feirantes sitiados nos terminais de ônibus, é ofertado um rodízio. De acordo com o coordenador de empreendedorismo e sustentabilidade de negócios da SDE, a cada duas semanas, eles mudam de terminal. “Cada dia é uma coisa diferente até porque nunca ficamos num terminal só, estamos sempre em vários terminais, então são clientelas diferenciadas também”, apoia a ideia, a artesã e dona de casa, Maria Tecla de Oliveira, 46. Ela participa da Feira por volta de dois anos e acredita que a iniciativa vem fazendo a diferença não somente na hora de pagar as contas no fim do mês, mas na valorização e qualificação da sua profissão de artesã.

“O projeto me acrescenta muito, porque primeiro a gente estimula a criatividade no dia a dia e não fica dedicando tempo exclusivamente aos afazeres de casa, mas, sim, em valorizar nossa profissão de artesão. Aqui tenho contato com várias pessoas. Elas vão passando suas experiências, também passo as minhas vivências e, assim, vou aprendendo. Já escutei também histórias de pessoas que não faziam nada e quando conheceram o projeto e começaram a participar das feiras, passaram a ocupar o tempo e a se qualificar profissionalmente”.

Para dirigirem-se aos terminais, os feirantes precisam ir por conta própria. Essa é até uma reclamação feita pela artesã Maria Moura. “Cada um vem do jeito que pode. Venho de ônibus e, às vezes, pego carona. Vou voltar de carona hoje com uma amiga que conheci aqui e mora do meu lado (risos), mas não tem ônibus que traz todo mundo não, bem que poderia, né? De repente, a Prefeitura poderia arranjar um ônibus para buscar os artesãos. Cada artesão traz a sua sacola. Alguns terminais até guardam, que é uma coisa muito boa, No meu caso, trabalho com artigos pesados, então, o que sobrou das vendas, tenho que levar pra casa, em vez de deixar aqui no terminal, e trazer mercadoria nova para o dia seguinte”.

Segundo a SDE, há uma impossibilidade de fornecer ônibus para todos, devido ao grande número de inscritos e à característica principal do projeto, que é a rotatividade dos artesãos entre os locais de vendas.

Salvo os benefícios financeiros, a SDE promove também vários cursos de capacitação nas Regionais. “São promovidos cursos como noções gerenciais, administração de redes sociais, fluxo de caixa e vários outros. A intenção é preparar o empreendedor e fortalecer a divulgação do seu produto”, explana Valter.

Daisy garante que esses cursos são muito importantes, mas também acredita que sua experiência anterior como vendedora de lojas vem ajudando em suas vendas. “Por si só, já sou muito comunicativa, já participei de muitos cursos de vendas proporcionados pela SDE. Por outro lado, já trabalhei muito no comércio, em shopping, loja de centro”.

Numa avaliação geral, os beneficiados pela Feira de Pequenos Negócios aprovam a realização do programa. Para eles, é a promoção de uma oportunidade excelente diante da crise econômica para todos os envolvidos, com relação à capacitação, ao aumento da renda e ao contato com diferentes pessoas. Mesmo com 17 anos de feira, Maria Moura não tem nenhuma pretensão de trocar a venda do seu artesanato por outro tipo de trabalho. “Até hoje, conheço pessoas novas. Não tem uma feira que deixo de trocar experiências ou de conhecer novas histórias. Cada feira é como se fosse uma primeira”.

Em dezembro, terminais, Regionais, Vapt Vupt e outros vão movimentar as vendas (Foto: Iury Medeiros)

O apoio à iniciativa surge igualmente em quem transita pela correria dos terminais. Para a técnica de enfermagem, Maria José Sousa, 45, é “uma chance das pessoas que passam pelo terminal ver coisas novas e criativas, artesanato da terra”. Em relação aos preços: “São bem acessíveis, dá para todo mundo comprar. Inclusive, faço algumas peças semelhantes e o preço que eu vendo é quase o mesmo”, acrescenta.

PREFEITURA REFORÇOU FEIRAS ARTESANAIS NO FIM DE ANO

No ritmo das compras natalinas, os artesãos cadastrados no projeto Feiras de Pequenos Negócios terão espaço assegurado para a venda de artesanato neste fim de ano.

Em dezembro de 2017, Regionais, terminais de ônibus, Vapt Vupt Messejana e Antônio Bezerra, dentre outros locais, se mobilizaram para a intensificação do comércio de produtos artesanais. “Os setores criativos têm um papel fundamental no crescimento da economia. Para quem deseja começar um negócio desse tipo é recomendado se juntar a um grupo de pessoas com o mesmo interesse e encontrar um nicho de mercado inexplorado, além de pesquisar bastante o mercado em busca de oportunidades”, ressalta o titular da SDE, Mosiah Torgan.

SERVIÇO

Para mais informações, os interessados procuraram a Sala do Empreendedor, localizada na Secretaria Regional mais próxima, sede da SDE, Vapt Vupt Messejana ou Vapt Vupt Antônio Bezerra, além do Espaço do Artesanato (Avenida Santos Dumont, 2500 – Loja 17 – Aldeota). Teriam de apresentar, para a realização do cadastro, Identidade (RG), Cadastro Nacional de Pessoa Física (CPF), comprovante de endereço e uma amostra do produto artesanal. Informações: 0800. 081 41 41.

Texto: Iury Medeiros (7º semestre – Jornalismo/UNI7)

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