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Nirez: o trabalho de um homem a favor da história

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Entrevistas, Texto

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Conheça um pouco sobre o historiador cearense e sua coleção de 141 mil itens

O resgate da memória salta os olhos. Você se sente imerso em um lugar único, onde a arte e a cultura encontram seus significados máximos. São essas as sensações dos visitantes ao se depararem com o Arquivo Nirez. Situado em um espaço de sua residência, no bairro Rodolfo Teófilo, pertinho do Benfica (local que respira o mundo acadêmico), em Fortaleza, o acervo é bastante diverso e reúne itens, como fotografias, partituras, rótulos de produtos, gravações, CDs e DVDs.

Mas essa coleção tão rica só seria possível com o empenho e a organização de Nirez. Uma figura singular, mas com ideias plurais, que transcende qualquer definição. Conversar com ele é ter acesso à simplicidade, é sentir-se literalmente em casa. Tão em casa, que o tempo passa e nem nos damos conta. Uma pessoa que conversa com as mãos, com o sorriso e com a vida.

Nirez conversa com estudantes da Fa7 sobre os desafios e um pouco da história de Fortaleza. (Foto: Dilson Alexandre)

Preocupado com o universo que o circunda, Fortaleza é pauta constante para Nirez. Talvez, por esta razão, o exímio historiador seja considerado uma das maiores referências quando o assunto é a história da capital cearense. Fonte de pesquisa viva, cujos relatos revelam momentos de outrora e trazem à tona uma importante reflexão sobre a relação entre o passado e o presente (este, que, segundo Nirez, para onde deveríamos voltar ainda mais nossas atenções), sem também esquecer o futuro de nossa cidade.

Questionado sobre a principal transformação vivida por Fortaleza nos últimos anos, Nirez aponta “a degradação da sua organização”. E completa: “Fortaleza já foi uma cidade limpa, organizada, com um trânsito bem regulamentado, com regras que eram obedecidas etc”.

Em relação aos aspectos artístico e cultural de Fortaleza, Nirez é taxativo. De acordo com ele, tanto a arte bem como a cultura já foram características inerentes à nossa cidade, mas não são mais. E levanta a discussão ao afirmar que “existem os tais ‘críticos de arte’ que nada entendem de arte, mas são os ditadores do que deve ser pintado, cantado, tocado, condenando qualquer manifestação realmente artística”.

Acompanhar cada uma de suas respostas nos leva a acreditar que Nirez e Fortaleza se misturam em um só ser. Uma estreita conexão de palavras, de recortes e de boas histórias. Um acervo de memórias que vale a pena ser preservado e repassado para as novas gerações.

O perfil de Nirez

Natural de Fortaleza, Miguel Ângelo de Azevedo, mais conhecido por Nirez, tem 79 anos. Ainda nos anos 1950, começou no ramo do desenho publicitário, trabalho que desempenharia na década seguinte no serviço público. Possui registro e é sindicalizado como jornalista. Apresentou e produziu programas de rádio tendo como base o seu próprio acervo.

Nirez foi agraciado com diferentes premiações, entre elas, a Medalha do Mérito Legislativo, da Câmara Municipal de Fortaleza, no ano de 1974, e, em 1994, o Troféu Sereia de Ouro, criado pelo empresário Edson Queiroz para homenagear personalidades cearenses.

Escreveu os livros Discografia Brasileira em 78 rotações (o primeiro publicado de sua carreira, com mais três pesquisadores), Fortaleza Ontem e Hoje, O Balanceio de Lauro Maia, Cronologia Ilustrada de Fortaleza (dois volumes) e A História Cantada no Brasil em 78 Rotações.

Desde janeiro de 2009, dirige o Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE).

O acervo em números

De acordo com o próprio historiador, pela última contagem, 141 mil itens compõem o acervo do Arquivo Nirez. São eles:

– fotografias (prédios, logradouros, pessoas, solenidades, acontecimentos etc.);
– rotulagem (carteiras de cigarros, caixas de fósforos, sabonetes, perfumaria, alimentos, bebidas etc.);
– propaganda (anúncios, lápis e canetas de divulgação de produtos etc.);
– partituras musicais (hinos, música popular e algumas eruditas);
– gravações (discos – 22 mil de 78rpm – rotações por minuto);
– 600 LPs (vinil – todos em MP3, por exemplo);
– 15 rolos fonográficos;
– dezenas de fitas (cassete e rolo);
– DVDs (filmes, documentários, registros de palestras etc.);
– CDs (músicas, depoimentos, programas de TV etc.).

Sentimento de repórter

As boas histórias Nirez, o historiador cearense reconhecido pelo trabalho a favor da nossa memória. (Foto: Dilson Alexandre)

As boas histórias Nirez, o historiador cearense reconhecido pelo trabalho a favor da nossa memória. (Foto: Dilson Alexandre)

Fiz duas entrevistas com Nirez neste mês de outubro. Na primeira, realizada no dia 3, tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, a casa, o acervo e, sobretudo, a pessoa fantástica que é o historiador, na companhia do também repórter, Gabriel Maia, e do coordenador do curso de Jornalismo da Fa7, Dilson Alexandre. Na ocasião, conversamos sobre a expansão dos shoppings e qual o impacto gerado por esses novos empreendimentos. Além disso, conferimos detalhes do seu acervo. Percorremos a história dos discos de cera, organizados metodicamente pelo historiador, em meio a outros itens não menos importantes espalhados pelo local, como gramofones de tamanhos variados, um microfone antigo, revistas de datas passadas e até uma câmera da extinta TV Ceará Canal 2.

A segunda entrevista foi feita por e-mail, na última quinta-feira, 10, onde pude constatar o tamanho real e a diversidade do seu arquivo, bem como detalhes da sua vida profissional. Ah! Ele responde rápido às solicitações, viu?!

Mas essa não foi a primeira vez que o historiador fez parte do meu percurso acadêmico. Na disciplina de Jornalismo Literário, ministrada pela professora Edma Góis, no semestre 2012.2, Nirez contribuiu com minha verificação final enviando nótulas do bairro Jacarecanga, tema principal dos trabalhos daquele período.

Em todos esses momentos, é como se eu me deparasse diante de um capítulo a mais sobre Fortaleza. Um acesso à arte e à cultura da nossa gente, em um acervo que leva a sua assinatura, com as cores, as formas e o jeito de ser dessa cidade que se reinventa todos os dias.

Recordando…

Nirez já estampou uma reportagem da revista Matéria Prima, publicação do curso de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro. Na edição 2012.2, cujo tema abordava a diversidade de sons, a matéria “A memória do som”, da repórter Tatiana Girão, traz Nirez como um dos personagens, ocasião na qual ele relata seu trabalho no MIS-CE e fala também sobre música e seu arquivo.  Confira aqui a edição da revista com o historiador.

Serviço

Arquivo Nirez:
Rua Professor João Bosco, 560, Rodolfo Teófilo
Telefones: (85) 3281-6949 (à noite) / (85) 9982-6439
e-mail: [email protected]

Nirez na internet:

http://www.projetodiscodeceranirez.com.br/
Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE):
Av. Barão de Studart, 410 – Meireles
[email protected]
Visitas com grupos e pesquisa ao acervo: (85) 3101.1206
Aberto de segunda a sexta, de 8h às 17h.

Soriel Leiros
7º semestre

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