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ISMAEL FURTADO: Dos desafios às conquistas acadêmicas, no rumo certo da comunicação

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O roteiro da vida acadêmica do professor Ismael Furtado não é muito diferente da maioria dos alunos que ingressam nos cursos de Comunicação Social. Entrou para o de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), na turma de 1995, com o pensamento de mudar o mundo usando a comunicação como ferramenta. Como a grande maioria, percebe que o jornalismo não muda o mundo, mas pode ajudar na reconstrução melhorada da realidade.

A vida o levou para experimentar outras experiências, como a profissão de bancário, que exerceu antes de se dedicar definitivamente ao jornalismo onde permanece até hoje. Professor do curso de Comunicação da UFC e responsável pela implementação dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Faculdade 7 de Setembro, Ismael falou sobre as experiências adquiridas durante o tempo em que foi o primeiro coordenador do curso. A entrevista faz parte da comemoração dos 10 anos do curso de comunicação social da FA7.

Foto Ismael 1Entre outros assuntos, ele fala ao Quinto Andar dos êxitos do curso, iniciando por grandes conquistas da publicidade e propaganda, referência acadêmica em todo o Nordeste. Confira:

Ismael Furtado: Acho que foi fácil o estabelecimento do curso de publicidade. Ele se destaca muito. Basta lembrar que foi aprovado com nota máxima. E foi reconhecido com nota cinco. Isso não se conquista se não tem excelência de um projeto se materializando na sua prática diária. Para isso tive que me juntar com pessoas. Se aliar com quem tem mais conhecimento do que você. Então, sempre trouxe para perto de mim pessoas que entendiam muito mais do que eu e que tinham um perfil que se identificava com o da instituição e aí essas pessoas nos ajudaram num trabalho coletivo a desenvolver o curso de Publicidade da FA7 que tem essa vertente muito forte na área das novas mídias. O que se convencionou chamar de novas mídias. A gente pensou ideias de web agências, que hoje estão acontecendo. Hoje, o curso se afina muito, e se você observar, o de publicidade e o de jornalismo são quase que um mesmo corpo, com dois braços que se diferenciam, como a publicidade se diferencia do jornalismo, no aspecto do discurso. O discurso jornalístico é um, o discurso publicitário é outro, mas eles tratam das mesmas coisas, basicamente.

Quinto Andar – Tratam de comunicação, sobretudo.
IF: Tratam do fenômeno da comunicação em seus muitos aspectos. Eu diria que há uma harmonia muito grande entre esses dois cursos. Isso permite, por exemplo, uma coisa que acho muito boa, é que alunos do curso de jornalismo estudem algumas disciplinas com alunos de publicidade e alunos de jornalismo estudem com os de publicidade. Isso tem certamente enriquecido a visão de jornalistas e publicitários aqui formados. Dentro do campo de cada um, o outro é uma extensão. Tanto que alguns alunos, e só vi isso aqui, que terminam jornalismo dizem ‘ah, agora vou fazer publicidade’; e alunos que terminam publicidade: ‘ah agora vou fazer jornalismo’. É comum isso, porque eles percebem uma identificação e veem o outro curso como uma extensão do seu curso Eu sou o cara preparado para o discurso jornalístico e para a prática jornalística, mas nada me impede com a devida formação, de atuar também na área da comunicação. Esta semana mesmo encontrei a Indyra (Indyra Tomaz, ex-aluna do curso de Jornalismo).que tá trabalhando agora em publicidade. É uma profissional formada em jornalismo aqui na FA7. Quando se fala em jornalismo, certamente que algumas especificidades a serem observadas, se aplicam ao curso de publicidade. Hoje os cursos são separados e é bom que seja assim. É uma evolução natural, no momento que a faculdade estava começando, fazia todo o sentido que os dois tivessem essa proximidade. Já cresceu e não dá mais para pensar essas coisas como eram antes. E que bom que não são como eram no início. Porque estão crescendo, estão evoluindo. É uma tarefa gigantesca tocar esses dois cursos. A maior dificuldade desse processo é porque a gente estava começando, fazendo as coisas e sofrendo. Há pouco a gente estava conversando sobre a inauguração desse estúdio (estúdio de rádio da FA7), a inauguração desse estúdio foi um processo. Na hora de desenhar o projeto, fazer a concepção, comprar equipamento, montar, fazer a organização. Cada coisa que tem aqui nesta sala foi uma decisão, uma escolha, foi uma briga, uma conquista, foi uma vitória. Cada coisa que fizemos aqui no curso começando foi um avanço. Não sei como é hoje, mas as primeiras Semanas da Comunicação, com o curso começando, foram coisas fantásticas (risos), em todas as possibilidades. Eram coisas que a gente fazia e assustava até a própria FA7 (direção da instituição). Ocupávamos o auditório para trazer grandes nomes, do jornalismo e da publicidade, mas para fazer um show de calouros também. Então, tudo era novo, tudo era a primeira vez. Fazer uma atividade de extensão como o Cante Lá que eu Canto Cá, a gente teve que enfrentar muita coisa, porque as pessoas não sabiam o que era, não entendiam a proposta, achavam que era oba-oba. Na hora em que a gente ganha um prêmio nacional, aí dizem: ‘isso é um projeto acadêmico de excelência’. Mas, até então, era um experimento dos universitários. Estávamos felizes de fazer uma atividade de extensão inovadora, de sair daqui para dar uma aula em Assaré (município distante 381 km de Fortaleza). Sabe o que é um aluno de jornalismo, aluno de publicidade, dar uma oficina em Assaré?

QA – E como foram essas primeiras experiências? Levando esses alunos pelas primeiras vezes para o Cante lá que eu canto cá?

IF: Muito difícil nesse sentido de convencer as pessoas a irem fazer isso. Você topa ir dar uma aula sobre stopmotion (técnica de animação quadro a quadro), ou seja lá o que você esteja fazendo, para crianças de 7 a 12 anos de idade, lá na Casa Grande, em Nova Olinda (cidade a 396 km de Fortaleza), sem ganhar nada por isso, além de experiência e o prazer de trabalhar neste projeto? Ou seja, é muito difícil. Nós fizemos alguns projetos, alguma viagens, que chegamos a ir com 12 pessoas contando o motorista. Até convencermos as pessoas de que o que estávamos fazendo não era bom, mas era muito bom e muito importante, a gente encontrou incompreensão. Em alguns momentos pensamos que o projeto não ia mais acontecer.

QA – O divisor de águas foi esse prêmio nacional que vocês venceram?
IF: Não. Eu diria que ele foi o reconhecimento público daquilo que já tínhamos certeza de que estávamos fazendo. Sempre tivemos muito claro que aquilo que estávamos fazendo, nenhuma outra instituição fazia. Estou há cinco anos na UFC (Universidade Federal do Ceará) que tem as maiores atividades do Brasil. Só nas casas de cultura são 10 mil alunos, mas procuro lá e não acho o que via cá. Também temos o Roteiros da Fé, onde produzimos um documentário, uma exposição fotográfica. Parece que na minha fala foi tudo eu que fiz, mas havia ao meu lado, profissionais da maior competência e do maior compromisso com o curso. Acho que a maior riqueza desses 10 anos do curso de Jornalismo são esses profissionais que a gente conseguiu reunir para tocar esse curso adiante. Esse curso é o Dilson (Dilson Alexandre, coordenador do curso de Jornalismo), é o Miguel (Miguel Macedo, professor do curso de Jornalismo), foi o Demitri (Demitri Túlio, ex-professor do curso de Jornalismo e repórter especial do jornal O Povo), foi a Katiuzia Rios (jornalista com passagens por TV Jangadeiro e TV Diário, ex-professora do curso de Jornalismo), foi o Alberto Perdigão (ex-professor do curso de jornalismo, com passagens em assessorias de comunicação e na TV Verdes Mares), a Kátia Patrocínio (professora do curso de jornalismo), é o Jari (Jari Vieira, professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade). Tanta gente boa que passou e que está aqui ainda fazendo um trabalho muito interessante e muito rico. Outro trabalho que merece ser citado é o de audiolivros que a professora Ana (Ana Paula Rabelo) e o Thiago (Thiago Seixas), que também é pai dessa ideia. Tem muita coisa que a gente fez aqui. E eu gosto de elencar essas coisas que fizemos aqui por duas razões: primeiro porque foi o grupo, não fui eu, foi o grupo; e, segundo, porque continuam existindo. Esse espírito de fazer coisas novas, fazer coisas desafiadoras. Essa coisa que é da FA7, que é do curso de Publicidade, continua. Eu não vi, em momento algum, esse espírito, esse ânimo se diluir, ao contrário. Ele continua e essas duas coisas são as mais importantes nesses 10 anos e muita coisa interessante continua se fazendo. E é muito por conta desse grupo que se reúne nesta instituição.

QA – Quais as principais diferenças que o senhor enxerga entre os ensinos superiores público e privado?

IF: São propostas diferentes. A universidade pública tem um caráter essencialmente de pesquisa. Fala-se que a universidade é um tripé formado por pesquisa, ensino e extensão. Eu acho que é um monopé com dois contrapesos muito fortes. Esse monopé é a pesquisa e, para compensar, um contrapeso é a extensão e alguma coisa mais forte em ensino. Isso é uma proposta que é da natureza do ensino público. Não necessariamente é ruim. É fundamental que seja assim. Até pelo crescimento da ciência. Pelo crescimento da ciência, pelo crescimento do país. O ensino privado é centrado no próprio ensino, na formação. Por isso que ele tem uma abertura maior para se conectar no que há de mais novo, no que está acontecendo na dinâmica social. Eu diria que o ensino privado não é voltado para a pesquisa, mas para o ensino em si. Por isso que ele é mais voltado para o mercado de trabalho. Ele é uma resposta às demandas ao mercado de trabalho que a universidade pública não consegue dar conta. São coisas de natureza diferentes, mas que são complementares. Já fui, na minha juventude, contra o ensino privado. Eu vivi o suficiente para ver que o ensino privado é necessário. Ele ocupa um espaço tão importante quanto o ensino público. Agora, no ensino privado, nem tudo é igual. Você vê instituições como a FA7, que estão preocupados do ponto de vista do indivíduo com formação ética e moral, com a formação das pessoas. E você tem instituições mercantis, que são negócios. E é um negócio na pior forma de ver um negócio.

QA – Qual o principal problema de ver a educação como um negócio?
IF: É você esquecer a educação. E aí quero me referir novamente a FA7, que a vida me mostrou ser uma instituição diferente. Até porque trabalhei em outras instituições privadas. Dentro do campo de ensino privado você encontra de tudo. Há instituições muito sérias que querem fazer um trabalho de qualidade que estão preocupadas com as pessoas. E você encontra arapucas, armadilhas, ardis, toda sorte de tramoia em nome da necessidade vital das pessoas se desenvolverem e se aprimorarem.

Foto Ismael 2QA – O senhor poderia citar algum exemplo, sem citar nomes, claro, por questões éticas?
IF: Não, não. Acho até que essas coisas se revelam. Dificilmente elas se dissimulam. O estudante percebe claramente a instituição onde vai chegar na hora, assistir aula do início ao fim, onde o professor dificilmente vai faltar. Onde ele vai ser cobrado. Onde terá atividades para fazer. Onde vai ter que ler. Onde vai ter que fazer uma prova e vai ser exigido aquilo que foi ministrado. O aluno sabe disso. Tem uma relação muito clara. Nesses anos que trabalho na educação, vi pouca gente enganada. Quem está aqui sabe o que é a FA7. Quem está em outra instituição, está topando ser enganado.

QA – Como o senhor vê o jornalismo hoje? O jornalismo ensinado na UFC e o jornalismo que o senhor vê sendo praticado nos diferentes veículos de comunicação no Ceará?
IF: Ele tá vivendo uma crise. Em que sentido? No sentido da transformação. Você tem hoje a possibilidade de dar voz a todas as pessoas, sem necessariamente passar pela intermediação dos veículos de comunicação. Hoje nós somos a mídia. Mas, dentro desse novo universo, em que qualquer pessoa pode ser um especialista, ter o seu blog, ser uma referência em determinado assunto e exercer ainda que seja por semelhança o jornalismo, porque se olharmos, tecnicamente não é, mas olhando para essa realidade de múltiplas vozes, onde cada um pode criar sua própria mídia, não é menos importante o papel do jornalista. Agora,  acho que esse modelo de grandes redações, de veículos com poder quase monopolista, vai desaparecer. Mas, em nenhum momento, vejo o fim do jornalismo ou fim de alguma coisa. Na verdade, nada morreu…

QA – Fala-se muito no fim do jornal impresso. O senhor crê nisso?
IF: Não. Mas, acredito que será muito diferente do que é hoje. Será muito diferente. Acho que será assim: vai ter um leitor premium de um veículo de comunicação, que deseja receber em casa o jornal impresso.  Mas, o jornal vai ser um veículo eletrônico de múltiplas fontes, que vai estar no Twitter, no Facebook que está em todo lugar. Foi muito importante nesse aspecto, o fim do diploma. Porque a gente vai aprender nesse período, como é importante a formação no jornalismo. Como continua sendo fundamental para quem deseja entrar nesse mercado. Não existe nesse momento a exigência do diploma, mas quem é que está exercendo. Quem está sendo colocado para fazer trabalho de qualidade? Para fazer porcaria, para falar besteira, tem esses personagens, Águia Dourada, essas figuras exóticas, essas meninas desinibidas. Essas repórteres de saias curtinhas estão ocupando algum espaço. Mas, qual a repercussão do trabalho delas, qual é a qualidade do trabalho que esse tipo de gente despreparada, que tomou de assalto alguns postos, pelo oportunismo com o fim do diploma, qual é a perspectiva que essa gente tem? Qual é? Para onde vai esse pessoal que não tem formação em jornalismo? Como estão vendo o trabalho dessas pessoas? Não se associa a eles credibilidade, não se associa confiança e não se associa futuro. As pessoas mais preparadas estão aí ocupando os espaços mais importantes de acordo com suas possibilidades.

QA – O senhor acha que os cursos de jornalismo e as empresas estão preparados para esse novo momento do jornalismo?
IF: As instituições de ensino correm atrás dessa dinâmica social. Mas, as empresas vão empurradas. E é sempre aquela sensação de que estão atrasadas e de que não se adequaram à mudança. Nisso, acho que o profissional, com formação aqui na FA7, tem uma abertura muito maior para entender o que está acontecendo.

Aflaudísio Dantas
8º semestre

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