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FA7 NO CENTRO: Bárbara de Alencar, uma mulher a frente de seu tempo

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FA7 no Centro

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Primeira prisioneira na história do Brasil, a cearense sofreu no calabouço que hoje pode ser visitado na 10ª Região Militar, em frente ao Mercado Central

Calabouço do forte onde ficou presa a revolucionária Bárbara de Alencar

Calabouço do forte onde ficou presa a revolucionária Bárbara de Alencar

“Aqui gemeu longos dias dona Bárbara de Alencar, victima em 1817 da tyrannia do governador Sampaio”. Escritas numa placa fixada logo acima da entrada do cárcere onde Bárbara de Alencar esteve, essas são palavras que logo causam espanto aos visitantes do calabouço. O local é pequeno, escuro, quente e sombrio. Um buraco negro! Nas paredes, marcas deixadas pelas noites frias em que a maré subia e tentava sufocar a prisioneira.

Localizada no Forte Nossa Senhora de Assunção – hoje, sede da 10ª Região Militar de Fortaleza – a prisão de dona Bárbara faz contraste com o agito do bairro que a acomoda, o Centro. Talvez, a maioria das pessoas, que circulam pelas ruas amontoadas por lojas, não imagina o terror histórico que se esconde por trás da mansidão do lugar. Inclusive os clientes e turistas que visitam o Mercado Central de Fortaleza, seu vizinho de frente.

O silêncio ensurdecedor e a escadaria que dá acesso ao calabouço, logo despertam a atenção para quem acabou de impelir-se pelas imediações do Forte. Antes de entrar, vê – se um breve histórico que explana o porquê da existência daquela instalação. Certamente, um alívio para os curiosos que, aflitos, não imaginam o que o último degrau da escada lhes reserva.

Aos visitantes de primeira viagem, um misto de tensão e adrenalina. Aos que já foram mais de uma vez, o mesmo silêncio da primeira visita, mas, agora, sem a mesma sensação de desbravar o desconhecido.

No fim da escadaria, um corredor. Um extenso corredor. Mais alguns passos, e, à direita, encontra-se, exposta por detrás de um vidro, a imagem de Nossa Senhora de Assunção, padroeira da capital cearense. É provável que esteja ali, como uma espécie de amuleto, para repelir a má energia alimentada pelos dias pavorosos que aquele lugar vivenciou.

Parece confortante ver o branco da tinta fixado nas paredes daquele corredor.
Apenas parece.

Os passos se adiantam e, lá no fundo, a cela subterrânea. O buraco negro! No seu interior, teto baixo, um espaço pouco arejado, sujo, sufocante e estarrecedor. Uma grade enferrujada dispõe-se no chão e sinaliza que, por muitos dias, Bárbara relutou arduamente por estar enclausurada. Afinal, quem poderia permanecer paciente e resignado à agrura daquele cárcere?!

A sensação de liberdade, portanto, desfez-se na projeção de enxergar, ali presa, dona Bárbara, apavorada com a incerteza do que estava por vir ou certa de que, naquele lugar, a morte seria sua sina.

Um pouco de Bárbara de Alencar

Bárbara lutou, bravamente, pela proclamação da República na Revolução Pernambucana de 1817. O desejo por mudança e seus ideais libertários transformaram-na na primeira prisioneira da História do Brasil.

Nas instalações do Forte Nossa Senhora de Assunção viu sua luta pela independência do país sucumbir-se a dias macabros de uma espera interminável. Permaneceu também presa em calabouços de Salvador e Recife. Foi maltratada e impedida de ver seus filhos. Libertada após três anos, tornou-se peça chave da Confederação do Equador.

Guerreira, destemida, matriarca e mãe de cinco filhos, foi mulher a frente de seu tempo. De acordo com o escritor Roberto Gaspar, “Dona Bárbara sempre foi considerada a cabeça pensante. Tinha a política nas veias e, na articulação, era a referência do grupo”.

Iury Medeiros

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