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POLÍCIA: Editoria exige experiência para temas polêmicos de segurança

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Entrevistas

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O editor Emerson Rodrigues comenta o trabalho, o relacionamento com as fontes e as peculiaridades das redes sociais na redação do Diário do Nordeste

Filho de inspetor da Polícia Civil aposentado e com irmão inspetor da Polícia Civil ainda na ativa, o trabalho na Editoria de Polícia veio após um convite. Na época, todo estagiário do Diário do Nordeste começava pela Editoria de Cidades – hoje o processo seletivo é direcionado para cada editoria – e depois de um tempo iniciava a mobilidade para outras editorias. No caso de Emerson o convite veio após uma conversa entre uma repórter que trabalhava na Editoria de Polícia, mas que precisava viajar para produzir uma série de reportagens por duas semanas, e o irmão policial de Emerson.

Emerson alerta que o contato pessoal é importante para que se conquiste a fonte (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas, apesar de ter o pai e o irmão policiais, ele não queria assumir essa editoria. “Eu cresci ouvindo história de polícia em casa e eu não gosto, queria outra coisa”, conclui Emerson. Porém, naquele momento, era preciso um estagiário mais velho (a maioria dos estagiários tinha 20 anos e Emerson já tinha mais de 30). A seu favor contou a experiência conseguida pela idade e o fato de ter dois policiais dentro de casa, segundo Emerson. “O Editor Geral me chamou e disse: rapaz fique lá duas semanas, porque a gente está precisando de uma pessoa um pouco mais experiente e que conheça a linguagem”. De duas semanas, passaram-se dois anos. E, ao final do estágio, Emerson foi contratado para a vaga que surgiu na Editoria de Polícia.

Ele chegou ao Diário do Nordeste numa época onde não existia rede social ou Whatsapp. Era somente o repórter, o fotógrafo e o carro cedido pelo jornal. Às vezes, passava o dia na rua sem conseguir nenhuma matéria e acabava voltando para a Redação de mãos abanando. Mas, apesar da tecnologia hoje existente, que possibilita o repórter ficar dentro das redações e só sair quando tem algo já apurado ainda na Redação, Emerson prefere a ida às ruas, pois facilita até mesmo os contatos com as fontes.

“Fui forjado ainda na ronda. O contato com as fontes por telefone e Whatsapp é uma coisa, o contato pessoal é outra”. Para Emerson, a ida às ruas contribui para a conquista das fontes. “Você só vai conquistar a fonte quando você for para a rua e fizer essas fontes na rua”. Ainda sobre as fontes, comenta que não há parceria e que isso fique bem claro: “é uma relação de fonte e repórter”.

Porém, lidar com temas tão polêmicos, como por exemplo, tráfico, armamento e etc., pode incomodar a um indivíduo ou a um grupo. Matérias que podem pôr em risco a vida do repórter, no Diário do Nordeste não são assinadas. Emerson lembrou o dia em que sofreu uma ameaça de uma fonte. “um policial foi morto e, como acontece na morte de policial, o autor foi identificado. A fonte ligou para mim e disse o local que eles iam prender o suspeito. A chegada de Emerson e do fotógrafo do jornal não foi muito amistosa. Os policiais que estavam em frente à residência do suspeito nos mandaram ficar afastados, mas ouvimos gritos vindos da casa e populares relatavam tortura contra o acusado”. Emerson tentou ouvir os policiais sobre a acusação, mas tudo foi negado.

Voltando à Redação a matéria foi escrita. A tortura foi citada na matéria, pois populares afirmavam e o próprio Emerson ouviu os gritos. “A fonte ligou para mim e pediu um encontro. Fui e no local reservado ele disse que aquilo ia prejudicá-lo e que poderia prejudicar a mim”, comenta Emerson.

A Editoria de Polícia trabalha diariamente com temas polêmicos e ainda precisa enfrentar os preconceitos dos próprios jornalistas. Alguns dizem que se você não sabe falar de economia, educação etc. o que sobra é o caderno de Polícia. “No impresso nós recebemos uma gratificação por perigo, atrelada ao salário, e muita gente acha que você só trabalha pelo dinheiro”. Está frase já ouvida por Emerson., mas ele diz que não é assim. Se você não se identifica, e não aceita os riscos dessa editoria, acaba saindo para outra editoria.

No início Emerson teve dificuldades nas matérias. Era “comum” na Editoria de Polícia não ouvir o outro lado, isto é, aquele lado que era considerado culpado. Ele diz que na Editoria de Cidades, por exemplo, se você vai denunciar algum órgão público quase que automaticamente já sabe que vai precisar ouvir a fonte oficial, que é o governo. Na Editoria de Polícia isso não existia. “Ouvia-se o delegado e pronto!” relata Emerson, complementando que “o delegado dava a versão dele. E eu perguntava: e o preso diz o quê? O delegado dizia: rapaz, ele diz aqui que não foi ele. É preciso dar a voz ao criminoso ou pelo menos dar voz ao advogado do criminoso”.

Sobre o Whatsapp e os mais variados grupos, Emerson pede calma e alerta “Whatsapp é o start. Precisamos pesquisar, checar dados e informações para evitar barrigadas”. E isso ele sempre procura alertar aos jornalistas mais novos e aos estagiários que passam pela editoria do jornal. “Nunca publique imediatamente nada que você recebeu pelo Whatsapp, mesmo que o concorrente já tenha publicado, e hoje sabemos que tudo é para ontem. Não publique antes de verificar”, conclui Emerson.

 

Texto: Paulo Mesquita (6º semestre – Jornalismo)

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