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EMERSON RODRIGUES: A violência e a segurança por quem produz a notícia

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Segurança pública, menores infratores e a postura do repórter policial foram temas abordados pelo jornalista em entrevista

Jornalista Emerson Rodrigues destacou a questão da segurança pública para jornalismo (Fotos: Letícia Alves)

Jornalista Emerson Rodrigues destacou a questão da segurança pública para jornalismo (Fotos: Letícia Alves)

Atual editor de Polícia do jornal Diário do Nordeste, Emerson Rodrigues mostra-se uma pessoa humanizada, longe dos estereótipos apontados ao jornalista policial. Editor há pouco mais de um ano e meio, Emerson já foi repórter do mesmo jornal e editoria, e relata ao Quinto Andar, o que pensa deste segmento em que atua, no total, ha oito anos.

Mesmo considerando que as novas tecnologias e convergências trouxeram pontos positivos, o editor manifesta-se a favor da apuração feita nos moldes antigos. Opina em questões polêmicas como redução da maioridade penal e o surgimento de justiceiros, e relata como um bom jornalista policial deve agir diante do tema.

Quinto Andar – Como você analisa o jornalismo policial hoje e as principais diferenças comparando-o com outras épocas?
Emerson Rodrigues: Em minha opinião, está totalmente diferente do jornalismo policial que se fazia no passado, por conta da tecnologia que modificou o relacionamento com as fontes. Antes, se falava com as fontes pessoalmente ou por telefone. Hoje, você tem rede social, whatsapp, facebook… Na época que fui para editoria de Polícia, há oito anos, o contato com a fonte era esse, pessoalmente. Tinha que ir à delegacia ou ir à rua onde o policial estivesse. As informações mais importantes você só conseguia pessoalmente. Hoje estou acompanhando como editor e vejo que muita coisa se faz por telefone, e digo aos meus repórteres que isso é muito ruim. Se eles puderem ir ao local é muito melhor. Quando eu era repórter, consegui descobrir coisas, no local, que às vezes a polícia não dizia. Conseguia com uma testemunha que não queria falar em determinado momento, mas quando a polícia saía, ficava mais fácil. Já por telefone só se tem a versão oficial da polícia e pronto. Você não consegue falar com o acusado, que é o outro lado da apuração. E sempre temos que ouvir os dois lados. Se não for pessoalmente, fica muito mais difícil.

QA – Como o jornalista policial, que convive diariamente com a violência, deve trabalhar a imparcialidade a fim de não produzir revoltas, que partem de pessoas que acreditam que a vingança penal é o único meio de se obter justiça?
ER: O jornalista que cobre essa área tem o policial como fonte, na maioria das vezes. Tem promotores, juízes, advogados, mas os policiais estão em maior número no que diz respeito às fontes. O policial convive muito com a violência e tem esse discurso. Não vou dizer todos, e nem só os policiais. A sociedade tem isso do olho por olho e dente por dente, bandido bom é bandido morto. É um discurso que nós, jornalistas, não podemos legitimar. É algo que eu brigava muito quando eu era repórter, isso de achar que porque o cara tem dez passagens pela polícia, então merece ser morto em troca de tiros ou coisa do tipo. O sujeito que for pegue em ato delituoso tem que ser preso, conduzido à delegacia e responder pelo crime que cometeu. Se o sistema de justiça é falho, então a sociedade tem que lutar para que mude esse sistema e o torne mais rigoroso, o que eu não acredito que vá resolver o problema da violência. Mas o caminho é esse e não fazer justiça com as próprias mãos, que é um discurso que tem ficado muito evidente.

QA – Considerando que o tema “redução da maioridade penal” é de extrema complexidade, como você acredita que seja a relação do jornalismo policial com o discernimento da população para obter suas próprias conclusões sobre o tema?
ER: É realmente um tema muito complexo. O nosso papel é trazer ao leitor as informações dos dois lados. Há quase dois anos, participei, como repórter, de uma série sobre o tema. Inclusive, essa série foi vencedora de um prêmio da OAB, e o tema era: “Sem proteção, meninos morrem, meninos matam”. Nessa reportagem, eu e mais duas colegas mostramos que esses adolescentes são muito mais vítimas do crime do que autores. Trouxemos estatísticas, mostramos crimes que eles praticaram, conversamos com juízes, promotores, passei quase uma semana na Delegacia da Criança e do Adolescente e no Juizado da Infância e da Juventude acompanhando os casos, ouvindo o que as mães falavam, o que os adolescentes falavam. Eu acredito que nós temos que insistir em mostrar que os casos pinçados de adolescentes praticando crimes, são casos pinçados! Mas que estão sempre na mídia porque estão como critérios de noticiabilidade, na medida em que trazem mais repercussão. É uma questão muito complicada e nós temos um papel importante de esclarecimento das pessoas.

QA – O que Emerson Rodrigues tem feito atualmente? Quais seus projetos e planos?
ER: Cuido da editoria de Polícia do Diário do Nordeste. Tenho vontade de fazer mestrado em Ciências Sociais, pois tenho um objetivo de ir para academia e ser professor. Acredito que essa área da Sociologia pode me ajudar a fazer um trabalho diferente no jornal, pois a questão da segurança precisa muito. Sinto que falta um debate mais qualificado nessa área e eu vou tentar me enveredar por este caminho.

Letícia Alves
3º Semestre

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