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PERFIL: Educação, além de vocação, uma missão

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Entrevistas

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Isabel pode ser considera uma mulher comum, cheia de atribuições, com uma rotina exaustiva e desgastante, mas há algo que a difere das demais: o amor pela educação

Ela nasceu em Jaguaribe, a 239 km de Fortaleza. Com sete dias de vida foi morar na cidade de Orós e lá permaneceu até os nove anos de idade, quando se mudou para a casa de parentes em Fortaleza, em virtude da falta de oportunidades no interior. De família numerosa, Isabel Diógenes, 46, foi a única entre quarto irmãos a seguir a carreira de educadora, influenciada, principalmente, por sua tia, Deuzuite Guedes, que era professora, considerada sua “referência positiva de educação”, como costuma dizer.

Estudou durante a infância e a adolescência no Colégio Redentorista, junto com os primos. Todos, entretanto, se interessaram por medicina, mas, Isabel continuou firme no propósito de ser professora. Antes de se formar em pedagogia casou-se ainda muito jovem, aos 18 anos, mas seguiu estudando: se formou em administração escolar, psicopedagogia clínica e institucional hospitalar e psicomotricidade relacional. Sempre teve enorme prazer em aprender.

O desejo de gerir e estar cuidando de mais pessoas a fez voltar ao ensino (Foto: Arquivo Pessoal)

Trabalhou em importantes escolas de Fortaleza, como os colégios Evolutivo e Farias Brito, período considerado por ela importante para aprimorar conhecimentos e aperfeiçoar seu fazer pedagógico. Quando percebeu que estava perto dos 40 anos, entretanto, sentiu falta de fazer algo mais seu, mais concreto, em função da insegurança gerada pelo trabalho em escolas particulares. Em 2010, foi aprovada, então, no concurso da Prefeitura de Fortaleza, como uma das primeiras colocadas.

Inicialmente, deixou de ser gestora, função que exerceu durante boa parte da vida profissional para lecionar, embora tenha sido por um curto período. O desejo de gerir e estar cuidando de mais pessoas a fez voltar ao que de fato sempre foi sua missão.

Há quase cinco anos está à frente da gestão do Colégio 15 de Outubro, mas, antes, ficou temerosa e chegou a circular nas proximidades da escola, pois não sabia se devia aceitar o desafio. Quando chegou, encontrou muitos problemas estruturais na escola: havia 14 salas de aula interditadas, obrigando crianças a estudarem em escolas vizinhas.

Como primeira providência, reuniu o grupo de professores e lançou a proposta de que todos se reunissem para que, juntos, pudessem pensar numa solução. A partir daí, Isabel foi utilizando os recursos disponibilizados pela prefeitura para fazer, aos poucos, as melhorias necessárias no colégio.

Com seu poder de mobilização, uma de suas principais características, uniu comunidade, professores, amigos e, inclusive, seus filhos para dar uma nova cara ao estabelecimento de ensino. Realizou bazar e rifa; convocou mutirão para pitá-la e até recebeu doações. Hoje, ela se encontra em perfeitas condições e oferece toda a estrutura de ensino necessária para os 1.376 alunos matriculados, dispostos em 57 turmas.

A gestora

Isabel é uma gestora atenta aos mínimos detalhes. Gosta de andar pela escola, ver se tudo está funcionando corretamente, se os banheiros estão limpos, se a merenda está sendo preparada corretamente, saber se os professores estão precisando de algum material. Gosta de antecipar os riscos e “ter um olhar de cuidado sobre o todo”, pois esse é o trabalho de um grande gestor. Sempre chega muito cedo à escola, e com sua simpatia peculiar recebe com muito carinho os alunos. Aproveita esse momento, então, para conversar com os pais.

Além disso, costuma fazer visita domiciliar aos alunos faltosos ou que apresentam comportamento atípico. Acompanha de perto o planejamento dos professores, o controle da frequência dos alunos, estando sempre atenta ao cuidado com o aprendizado.

Isabel lida com uma equipe de 80 professores (Foto: Arquivo Pessoal)

Todo mês traz as famílias para a escola, seja para uma reunião, palestra ou apenas para divulgar um evento, pois para ela é fundamental inseri-los nas atividades da escola. Além disso, conta com pais “parceiros”. É um grupo pequeno, mas que sempre ajuda a resgatar crianças que estão sem frequentar a escola e a tomar leitura de outras crianças.

Todos esses aspectos contribuíram para que a escola melhorasse de maneira considerável seus índices. Isabel, entretanto, não atribui os bons resultados da escola somente a ela, mas a toda sua equipe, que corrobora com suas ideias e está sempre preocupada em proporcionar uma educação de qualidade aos estudantes, o que faz com que tudo flua bem.

A equipe é composta por 80 professores, e Isabel tem o desafio de mantê-los sempre estimulados em meio a discussões por melhores salários e condições de trabalho. Apesar de também ser professora, sabe que é diretoria é a “ponte” entre eles e a prefeitura, por isso, busca mediar os conflitos, tomar decisões em conjunto, estar constantemente em contato, dando suporte pedagógico, otimizando o tempo e provendo materiais necessários.

Antes de Isabel assumir a gestão, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), medição feita pelo governo federal a cada dois anos, em alunos do quinto ao nono ano do Colégio 15 de Outubro era de 4.2 pontos, em 2015 alcançou 5.7, superando a meta do governo para 2021. Para este ano, entretanto, o objetivo é atingir a pontuação máxima 6.0, e superar a meta para 2024.

Rotina fora da Escola

Com pouco tempo para si, Isabel é uma mãezona daquelas que abre mão de si para se realizar com as conquistas dos filhos. Muito amável e zelosa faz questão de participar de cada momento e saber as relações de amizade de cada um deles. Casada há 27 anos, teve três filhos: Gustavo, Daniel e Laura, e sempre buscou não interferir em suas escolhas profissionais, pois, para ela, fazer o que gosta é o mais importante.

Não abre mão, mesmo com tempo corrido, dos afazeres domésticos e da rotina com a família. Tanto, que nos fins de semana não leva trabalho para casa, e suas atenções são voltadas completamente para o marido e os filhos. Para isso, viaja sábado cedinho ao sítio que tem em Aquiraz, onde busca relaxar e recuperar as energias para semana seguinte, longe da agitação da cidade, voltando somente domingo à noite.

 

Texto: Camila Vasconcelos (8º semestre – Jornalismo)

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