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Empatia esquecida em um mundo individual

Categoria:

Crônicas, Texto

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Pessoas em seus cotidianos têm a chance de mudar a realidade de alguém e por consequência a sua

Era um dia comum e me preparava para mais um dia de aula. Costumo observar as pessoas que pegam o coletivo junto comigo, afinal, de Caucaia até a região leste de Fortaleza dá tempo para ver muita coisa. Reparo no ser humano para me surpreender com algo inusitado ou com atitudes inesperadas. Do meu lugar, vejo todo o caminho, sem esperar que a surpresa do dia me envolva diretamente.

Continuei sentado até chegar à minha parada, em frente ao Pão de Açúcar da Av. Washington Soares. Ao me aproximar do supermercado, vi uma senhora sentada no chão. Com aparência fraca, sabe lá há quanto tempo estava ali, na porta do mercado. Olhei-a nos olhos e esperei que falasse algo. Ela me pediu “qualquer coisa” e prontamente perguntei se estava com fome. Chamei-a para entrar e comer junto comigo.

Imediatamente recusou e pediu apenas um pacote de bolachas. A prioridade, então, era atender a esse pedido. A satisfação tomou conta do seu olhar. Talvez nem fosse para ela, talvez fosse para os filhos ou netos, não sei, mas o fato é que consegui ajudar. Prometi a ela que entraria e traria algo para que pudesse comer e logo após isso me pus a refletir sobre essa situação, sobre o incômodo e o mal-estar que me causou.

É possível notar, ao entrar no Pão de Açúcar, que ele fica numa espécie de pátio privado onde pelo menos mais três grandes empresas estão instaladas, e que várias pessoas estavam dentro do supermercado. Elas compravam suas coisas, normais, como se não tivessem visto o que eu vi. Minha mente se recusa a acreditar que todos os outros entraram por outra porta ou que aquela mulher só esteve ali enquanto eu passava.

A grande maioria parecia ter mais condições financeiras naquele momento para ajudar aquela senhora do que eu, um estudante de jornalismo da Região Metropolitana de Fortaleza, que depende de programas do governo para conseguir estudar numa instituição privada. Mas, ao mesmo tempo, vi que ninguém havia ajudado, considerando a falta de sacolas perto daquela senhora. Foi quando reparei que não se tratava de dinheiro.

O ser humano em geral parece mais frio, parece indiferente aos problemas alheios. Dá-me a impressão de que mesmo se pudessem ajudar os seus semelhantes, de alguma forma que exigisse seu tempo, sua atenção, seu dinheiro, não fariam. Com certeza, não eram todos mais pobres do que eu, lá dentro do mercado, mas eram pessoas com cegueira social, pessoas presas em seus mundos, caminhando programadas todos os dias.

Não custa tanto ajudar alguém que de fato precisa, não dói tanto assim. Abrir os olhos um pouco e enxergar além do que estamos acostumados, ver um mundo fora do sistema egoísta e individual no qual estamos inseridos. O exercício da empatia está se perdendo no tempo e nas pessoas. É necessário que retomemos o caminho de amor demonstrado em atitudes, algo mais voltado para o outro, independente da classe social ou outros fatores.

Hora de vermos que os que muito têm, sem muito ter no peito, na verdade nada têm, pois não podem compartilhar. Qual a graça de viver uma realidade só minha? Afinal, não é o homem um ser social que se relaciona com o mundo externo a si mesmo? Sim, pelo menos deveria ser. Não posso ignorar uma senhora na porta de um supermercado pedindo alimento. Não posso ser indiferente ao mundo e às pessoas e ainda querer ser chamado humano.

Adailson Nogueira
5º semestre

 

 

 

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