Notícias

Para enxergar o mais difícil

Categoria:

Crônicas

0

Celebrar mais um ano, mas pensando no que precisa mudar. Enxergar o que não se quer ver e agir. Conhecer a história é entender um pouco mais a própria alma.

Locais como a Avenida Presidente Castelo Branco, a Praça dos Mártires e o Parque da Liberdade me fazem lembrar o quanto a memória deixa os nomes e fatos escapulirem ou o quanto nos acostumamos com o mais fácil, prático, que seja. Conhece os locais citados? Popularmente, eles têm outro nome. Sabe onde ficam? Se não sabe, direi no final, pois agora devo exaltar o aniversário da cidade, como manda o figurino. Ou não.

Pois bem, Fortaleza completa 287 anos. A cidade cresceu pra cima e para os lados, inchou e a paisagem urbana mudou.Bicentenária, quase tri,e, apesar dos avanços,ainda encontramos mazelas no Centro, na periferiae até em áreas mais abastadas.São os percalços enfrentados pelas grandes metrópoles.

A falta de assistência ainda é gritante. Dirão que é verdade, aqueles que passam pela Avenida Tristão Gonçalves, no fim da noite, e enxergam a fileira de moradores de rua, tais quais os guerreiros do exército de Terracota. Os moradores sem-teto, claro, sem boas vestes ou alguma pompa.

Bairros, comunidades inteiras necessitando de auxílio, seja no quesito segurança, saúde, educação, por que não cultura, lazer?Pois, como diz a música “a gente não quer só comida”, mas também diversão e arte. Em contrapartida à face mais dura da realidade, há geração de empregos, projetos sociais (e talvez, apostando em projetos sociais, possamos ver o cenário mudar), belezas naturais e boas pessoas na cidade. Fortaleza festeja. Afinal, 287 anos são celebrados uma vez só.

Projetos sociais como Edisca,Vidança,Pirambu Digital, Centro Cultural Bom Jardim e outros tantos fazem a diferença. A poesia da terra, o mar, as praias e o sol pesam a favor da cidade, dos recantos da Loira desposada do Sol, como o poeta Paula Ney já nomeara Fortaleza.

Com pedido de perdão pelo saudosismo, devo rememorar alguns nomes que pelo talento fortalezense, cearense, que seja, fazem qualquer brasileiro, de qualquer parte do país, dar a mão à palmatória: Rachel de Queiroz (pois as terras não são apenas alencarinas), José de Alencar, Chico Anysio, Belchior, Fagner, Castello Branco e, não menos importante, Airton Monte. Não fosse o último, a coragem pra escrever essas poucas linhas, não existiria. Agora, claro, a lista não para por aí, mas não cabe aqui.

Opa! E onde entra a Avenida Castelo Branco nessa história toda? Inaugurada na década de 1970, é conhecida como Avenida Leste-Oeste porque o nome não pegou. E quem iria dizer: “vamos comigo até a Avenida Castelo Branco”, quando se pode dizer que vai até à Leste-Oeste? Nossa mania de simplificar as coisas. E é aí que a avenida, a praça e o parque entram na história.

Tendemos a dar outros nomes a certos objetos, lugares e situações. Da mesma maneira que parece fácil chamar a Praça dos Mártires de Passeio público, também parece conveniente fazer vista grossa à existência de áreas pobres, filhas do descaso, existentes na cidade.Do mesmo modo que é relativamente fácil chamar o Parque da Liberdade de Parque das Crianças.Parece-me simples (ou simplista) achar que realidades mais difíceis se sustentam por omissão.

Fortaleza comemora. Pede, contudo,um crescimento ainda maior. Não de prédios ou empresas apenas, mas, sobretudo, um crescimento mais humano e mais justo.

(*) Crônica escrita por ocasião do aniversário de 287 anos, em abril de 2013.

Jefferson Privino
7º semestre

Tags: , , , ,

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

catorze − oito =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.