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“MÃE!” (2017): Uma grande alegoria que é a existência da vida humana na terra

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De antemão, o longa “Mãe!” (2017), escrito e dirigido por Darren Aronofsky foi uma das maiores surpresas do ano e já pode ser batizado como uma das experiências mais chocantes, viscerais e controversas dos últimos anos no cinema

Aronofsky já é conhecido do público por seus filmes intensos e inquietantes. Trabalhos esses que provocam o limite do espectador e acabam sendo, muitas vezes, desagradáveis de se acompanhar. Mas isso não significa dizer que suas obras tornam-se insatisfatórias. Muito pelo contrário. Filmes como “Réquiem Para Um Sonho” (2000) e “Cisne Negro” (2010) são ótimos exemplos de como o diretor guia magistralmente suas tramas perturbadoras até um desfecho catastrófico e, por que não, aliviador com a chegada dos créditos finais. Em “Mãe!” (felizmente) isso não foi diferente.

O filme narra a história de um casal, interpretados por Jennifer Lawrence, a jovem esposa que passa os dias restaurando a casa onde vivem, e Javier Bardem, o marido mais velho que está tentando recuperar sua inspiração para voltar a escrever seus poemas que o tornaram um autor famoso. Os dias pacíficos se transformam completamente com a chegada de uma série de visitantes indesejados que se impõem à rotina do casal e não revelam suas verdadeiras intenções.

“Mãe!” tem um antagonista que foge à maioria das regras em filmes desse gênero

A grande marca de Aranofsky está presente em seu novo trabalho de maneira ainda mais agressiva e aterrorizadora que seus trabalhos anteriores. Com sequências longas e sem trilha sonora, “Mãe!” é conduzido, pelo seu início, de forma confusa e sutilmente desconfortável, mas que culmina em um verdadeiro show de horrores, que pode torná-lo repulsivo até sob o olhar mais bem treinado para cenas desse gênero. Inclusive, vale ser ressaltado aqui, que o plot do enredo não se dá necessariamente em um ponto específico da trama, mantendo-se em aberto para ser notado em diversos momentos durante a projeção e permanecendo assim até o final.

Mas, o ponto alto do filme dá-se não ao momento em que a revelação é constatada, mas sim na série de eventos perturbadores que amarram o emblemático enredo. E é nesse momento que o longa revela o seu verdadeiro e maior vilão.

Afinal de contas, “Mãe!” tem um antagonista que foge à maioria das regras em filmes desse gênero. Um bom vilão geralmente causa empatia com o público a ponto de suas ações serem compreendidas, mas, provavelmente, não consentidas. Nesse filme, o vilão é o próprio espectador. Somos todos nós. A identificação (junto ao não consentimento das ações) e o constrangimento ao ver-se representado em tela de forma tão forte e violenta é o grande choque que esse novo filme de Aronofsky traz para o público. O ser humano e sua natureza agressiva são retratados aqui por uma das visões mais cruéis e ambiciosas no cinema dos últimos anos.

De forma egoísta, inconsequente e imatura, o homem mostra seu real propósito na trama: Destruir e corromper. Um alerta que serve como um soco no estômago. Uma ferida exposta que choca os mais conservadores e entristece os mais empáticos, com cenas brutais e críticas à sociedade que ressaltam problemas já tanto discutidos, mas que parecem insolucionáveis e fadados à repetição. A visão niilista de Aronofsky sobre a humanidade, que, também, buscando inspiração no Deus retratado pelo filósofo Spinoza, trouxe ao público uma obra que deve ser discutida por inúmeras razões e também por diferentes visões.

Ao fim da projeção, ecoa o grito desesperado de uma interpretação brilhante de Jennifer Lawrence, percebe-se a qualidade técnica e estética inquestionável da nova e poderosa obra de Aronofsky e, acima de tudo, reflete-se sobre tudo que acabara de ser visto em tela: Desde os mínimos detalhes na narrativa ao grande leque de debates que ele levanta. Permanecendo horas e até dias ressoando na cabeça do espectador, “Mãe!” não deve ser por bem ou por mal, um filme facilmente esquecido.

Nota: ★★★★★ (5/5)

Texto: Jordi Cruz – (7º semestre – Publicidade e Propaganda/UNI7)

Fotos: Paramount Pictures

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