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ANA MARY CAVALCANTE: As experiências de quem conta belas histórias

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Entrevistas, Texto

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A jornalista do O Povo fala sobre a profissão e de temas relacionados ao jornalismo literário

Ana Mary atribui à sua família, amigos e professores o seu destaque na profissão (Fotos: Jessica Farias)

Ana Mary atribui à sua família, amigos e professores o seu destaque na profissão (Fotos: Jessica Farias)

Graduada como jornalista há 18 anos e meio, Ana Mary Cavalcante diz que a escolha pela profissão veio por acaso. Ela pensava em seguir outras carreiras até fazer um teste vocacional no ensino médio que sugeriu os cursos de Direito, Letras e Comunicação Social. Optou pelo último. “Não foi uma escolha. Penso que é a vida que escolhe a gente para estar em determinados lugares, e não a gente que escolhe onde vai estar”, diz. A paixão pelo jornalismo veio com o tempo.

Sua carreira como jornalista começou no jornal O Povo, em 1996, escrevendo para um caderno voltado para jovens. Também trabalhou com o suplemento literário Sábado por dois anos e escreveu para o caderno Vida & Arte, por dez anos. Antes de chegar ao Núcleo Especial de Reportagens, no qual trabalha há cinco anos, passou pelas editorias de Economia e de Cotidiano. Na entrevista a seguir ao Quinto Andar, concedida na redação do jornal, Ana Mary fala sobre sua história com o jornalismo e, mais especificamente, sobre sua experiência com o jornalismo literário, ou como ela prefere nomear, jornalismo de permanências.

Quinto Andar – Como você analisa o jornalismo literário hoje e as principais diferenças comparando-o com outras épocas. O que melhorou e piorou?
Ana Mary Cavalcante: A principal diferença que vejo no jornalismo literário é a extensão. O modo de atuação é o mesmo, fazendo entrevistas e por meio da checagem de informações. O que torna literário é o apuro, a observação do que o outro não vê, fugir do senso comum. O literário é o que não é datado. Não é o fato pelo fato. É uma explicação estendida da história. A principal mudança aconteceu na maneira de se comunicar. Antes, os textos literários tinham um rebuscamento maior e ocupavam espaço maior. Atualmente, o que se exige dos jornalistas é a comunicação plena, seja em um parágrafo ou em uma página.

QA – O jornalismo literário recebe espaço suficientes nos meios de comunicação cearenses?
AMC: A saída para produzir um conteúdo literário são as obras autorais, webdocs e blogs. Os jornais estão cada vez mais enxutos. Se é satisfatório, não é. Mas, é desafiador contar uma história sem perder a essência no espaço que nos cabe atualmente. Se poderia ser maior, não sei, porque não sei se teria leitura. Não é só a técnica. Não é só o lead. Esse jornalismo me faz trabalhar melhor o texto, o ouvir.

Para a jornalista, contar uma história no espaço que cabe ao jornalismo literário atualmente é desafiador (Fotos: Jessica Farias)

Para a jornalista, contar uma história no espaço que cabe ao jornalismo literário atualmente é desafiador (Fotos: Jessica Farias)

QA – A imprensa de um modo geral se pauta em assuntos no contexto do agendamento sem tratar sistematicamente a questão. Como o jornalista pode melhorar o debate sobre o jornalismo literário na mídia?
AMC: O agendamento é serviço. São fatos, e é o que o público quer ver. Cobrir isso é necessário, mas não é suficiente. Mas, às vezes, ao cobrir o factual, a gente acaba descobrindo histórias mais profundas. Por exemplo, uma vez fui cobrir um release sobre um centro de alfabetização e, estando lá, reparei em um rapaz que estava escrevendo apoiado em uma chinela. Aquela cena me chamou atenção, e eu conversei com ele. Quando cheguei à redação, tinha duas histórias. A convencional, mais factual, mas também outra abordagem. Isso se transformou em uma reportagem especial de três dias, e acabamos acompanhando o desenrolar da história dele.

QA – Na sua trajetória profissional, o que mais contribui para se destacar no jornalismo?
AMC: Não dissocio as pessoas ao meu redor, da minha vida como jornalista. Minhas vivências e experiências de vida são a minha primeira formação. O contexto da universidade e professores como Ronaldo Salgado e Augustinho Gósson também colaboraram para eu me tornar a jornalista que sou. A minha terceira formação aconteceu no dia a dia da redação. Estou há 18 anos e meio no jornal O Povo e conheci muita gente aqui. Uns corrigiam os textos dos outros, brigavam por espaço e assim fui consolidando minha formação como jornalista e ganhando espaço. Costumo dizer que o jornalismo é a minha melhor terapia. As pessoas me dão muitas respostas, não somente aos porquês das pautas, mas aos porquês da existência.

Imagem de Amostra do You Tube

QA – Quais foram os melhores momentos que viveu como jornalista?
AMC: Os melhores momentos são os que você consegue responder o porquê de estar aqui, de passar os feriados, o ano novo, às vezes não poder dar assistência à família por estar trabalhando. Um momento marcante foi quando escrevi uma matéria sobre soropositivos nos anos 90. Estava acompanhando o grupo de apoio Girassol no Hospital São José. Uma escola de Fortaleza tinha escrito cartas para os pacientes. A Mirtes Aquino, do grupo de apoio, as entregou. Um senhor estava na UTI ligado por aparelhos, e a Mirtes foi lá ler a carta, que falava em saúde, força e fé. No começo, não entendia o porquê de ela ir lá fazer isso. Ele não falava, não se mexia. Mas, quando ela começou a ler a carta, o aparelho do coração disparou. Percebi, então, que se você acha importante fazer algo, faça. O entendimento vem depois.

Jéssica Farias
7o semestre

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